domingo, 7 de janeiro de 2018

Água.


Vimos recentemente um filme impressionante que nos fala de uma viúva de 8 anos que nunca conheceu o marido e que é aprisionada numa casa de acolhimento estritamente aberta para receber viúvas. Segundo a tradição indiana estas mulheres devem ficar isoladas da sociedade até ao final das suas vidas e não podem voltar a casar. Mesmo que tenham oito anos e continuem virgens. O filme chama-se “Água” (“Water”) e foi realizado por Deepa Mehta em 2005.

Uma história impressionante sobre a triste sina das viúvas na Índia do século passado, quando as ideias de Ghandi começam a mudar o rumo da tradição. Uma história sobre a criança Chuyia e a sua amiga Kalyani que se prostitui para financiar o “lar” de viúvas e que ousa perturbar as regras apaixonando-se por um homem com estudos universitários que está disposto a desafiar a tradição. Estas mulheres além de remetidas ao esquecimento não têm dinheiro para comer e vivem da caridade alheia. As mais novas usam a prostituição para pagar as despesas das mais idosas num jogo social que todos conhecem mas querem ignorar.

Desconhecia este problema e o filme questiona duramente a religião que impõe às mulheres este estado de degradação. O filme fala-nos emotivamente sobre os direitos da mulher na sociedade indiana que ainda hoje parece bastante influenciada pelo casamento tradicional onde os noivos são escolhidos pelos familiares. A tradição impõe regras desumanas e só uma vontade de liberdade, que desafia o estado das coisas, pode quebrar este impulso de preservar hábitos conservadores e incompreensíveis ao olhar ocidental.

Como o filme tão bem coloca a questão, podemos controlar os velhos, esquecê-los e remetê-los a situações horrendas, mas as crianças, essas, mesmo na Índia, abrem sempre as asas e tentam voar. Nem que seja por um simples doce que faz feliz uma velha na hora da morte. O destino de Chuyia pode ser diferente daquele que as outras miúdas, antes dela, tiveram e é isso que dá significado à morte das anteriores companheiras de infortúnio. Viúvas que depois de perderem o marido perdem a vida e cujo único destino é passar o tempo.

Uma oportunidade para ver uma realidade que raras vezes chega aos nossos cinemas.
Isa Matos

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