Vimos recentemente um
filme impressionante que nos fala de uma viúva de 8 anos que nunca conheceu o
marido e que é aprisionada numa casa de acolhimento estritamente aberta para
receber viúvas. Segundo a tradição indiana estas mulheres devem ficar isoladas
da sociedade até ao final das suas vidas e não podem voltar a casar. Mesmo que
tenham oito anos e continuem virgens. O filme chama-se “Água” (“Water”) e foi realizado por Deepa Mehta em 2005.
Uma história impressionante
sobre a triste sina das viúvas na Índia do século passado, quando as ideias
de Ghandi começam a mudar o rumo da tradição.
Uma história sobre a criança Chuyia e a sua amiga Kalyani que se prostitui para
financiar o “lar” de viúvas e que ousa perturbar as regras apaixonando-se por
um homem com estudos universitários que está disposto a desafiar a tradição.
Estas mulheres além de remetidas ao esquecimento não têm dinheiro para comer e
vivem da caridade alheia. As mais novas usam a prostituição para pagar as
despesas das mais idosas num jogo social que todos conhecem mas querem ignorar.
Desconhecia este problema e o filme
questiona duramente a religião que impõe às mulheres este estado de degradação.
O filme fala-nos emotivamente sobre os direitos da mulher na sociedade indiana
que ainda hoje parece bastante influenciada pelo casamento tradicional onde os
noivos são escolhidos pelos familiares. A tradição impõe regras desumanas e só
uma vontade de liberdade, que desafia o estado das coisas, pode quebrar este
impulso de preservar hábitos conservadores e incompreensíveis ao olhar
ocidental.
Como o filme tão bem coloca a questão,
podemos controlar os velhos, esquecê-los e remetê-los a situações horrendas,
mas as crianças, essas, mesmo na Índia, abrem sempre as asas e tentam voar. Nem
que seja por um simples doce que faz feliz uma velha na hora da morte. O
destino de Chuyia pode ser diferente daquele que as outras miúdas, antes dela,
tiveram e é isso que dá significado à morte das anteriores companheiras de
infortúnio. Viúvas que depois de perderem o marido perdem a vida e cujo único
destino é passar o tempo.
Uma oportunidade para ver uma realidade que raras
vezes chega aos nossos cinemas.
Isa Matos
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