quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Saudades...

Nem sempre tenho disposição para ouvir ou falar com as pessoas com quem cruzo mas onde trabalho tenho de o fazer diariamente. Por vezes são sorrisos forçados e saudações obrigatórias que me obrigam a ser simpática para com todos aqueles com quem cruzo. Há aquelas que faço um esforço mas há outras que é um prazer. E há ainda aquelas que tenho saudade por já não saudar ou sorrir diariamente.
A D. A é uma delas e sentir que não a vejo nem a saúdo diariamente deixa o meu coração apertadinho. Não era da minha família mas entendemo-nos na perfeição para pensar que poderia ser um familiar afastado.
Tenho saudades dela. Tenho saudades do riso dela. Tenho muitas saudades da sua boa disposição. Tenho saudades das suas constantes piadas inesperadas. Tenho saudade dela e pronto. Ninguém me tira isso… também ninguém me abranda esse sentimento… e também ninguém a substitui …. só tenho receio porque vão aparecer muitas A’s e esta sensação nunca abrandará….

Até um dia minha querida… até sempre menina A….

Conhece-me Antes de me Odiares!



Recentemente, no programa da tarde NÓS da RTP 1, falaram do tema "Ser Estudante na Faculdade sendo Mulher Portuguesa de Etnia Cigana".
Para tal ,fizeram uma reportagem e entrevistaram ao vivo duas estudantes ciganas do ensino superior do OPRE (programa que apoia Jovens Ciganos no Acesso ao Ensino Superior.
Quando tudo indicava que ia  ser uma oportunidade de desmistificar clichés acerca das comunidades ciganas e promover a educação junto de outras comunidades ciganas, infelizmente, e apesar da excelente performance das duas mulheres ciganas convidadas, os apresentadores do programa insistiram em tentar mentalizar e passar a ideia que os ciganos são os culpados pela sua situação,segundo eles, os ciganos ainda adotam tradições seculares que "castram" a liberdade das mulheres...
Só o título de apresentação "Mulheres Ciganas fogem á tradição Cigana" é de morrer!
A tradição cigana não proíbe estudar, a escola é que nunca foi uma prioridade porque nunca foi necessária para ganhar o pão de cada dia na venda ambulante. As mulheres do Programa OPRE não são "fugitivas", elas são mulheres ciganas com pleno orgulho de o serem e que optaram por estudar porque acreditam num futuro mais estável que a venda ambulante já não permite assegurar...
As duas intervenientes ciganas tentaram mostrar que as comunidades ciganas são muito heterogéneas e que os processos de inclusão e socialização estavam em diferentes estádios, contrariando ideias pré-concebidas que estão cristalizadas há séculos na sociedade maioritária por falta de conhecimento.
A Sónia Prudêncio disse que não há casamentos forçados, que havia um ou dois num milhão, mostrou que o processo de emancipação das mulheres ciganas está a ser igual ao que foi feito há 3 décadas atrás pelas mulheres da sociedade maioritária. Os argumentos em nada demoveu os apresentadores que apesar de terem dito que gostavam e tinham amigos ciganos , quiseram mostrar á opinião pública que a "Culpa é dos Ciganos".
Perdeu-se uma excelente oportunidade de quebrar ciclos de generalizações diárias e de séculos contra os ciganos...
Por último, dizer ao apresentador, que eu também conheço muitos ciganos, mas não os conheço todos de forma a generalizar toda uma comunidade!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O filme da minha vida

Um dos filmes que mais me marcou na vida é o filme "A Família Bélier". É dos filmes mais tocantes que já vi. Um filme magnifico, maravilhoso, encantador. Recomendo vivamente a todos a vê-lo.
Na família Bélier, Paula, a filha de dezasseis anos, é a intérprete indispensável para muitas das tarefas diárias de seus pais e irmãos, todos eles são surdos, menos ela (que fala por telefone, lida com o banco ou facilita-lhes a compreensão no consultório médico), sobre tudo relacionado à manutenção da granja. Paula é como se fosse a tradutora da sua família. Um dia, um professor de música descobre seu dom pelo canto e anima Paula para que participe num prestigioso concurso musical em Paris, o que lhe daria acesso seguro a uma boa carreira e aos estudos universitários. No entanto, esta decisão significa deixar para atrás sua família, desnorteada e inquieta pela iniciativa e para quem o conceito da música resulta alheio, Paula começa a dar seus primeiros passos como adulta, ainda que enfrente a incompreensão dos pais, as dúvidas sobre a sua vocação musical, o abandono das responsabilidades com a família e a incerteza sobre a crescente atracção por um rapaz de sua idade. Enquanto isso, seu pai, Rodolphe Bélier, insatisfeito com as acções do prefeito da cidade, decide concorrer às eleições, apesar de sua deficiência.
Uma comédia dramática com realização de Eric Lartigau ("Como Casar e Ficar Solteiro", "Em Busca de Uma Nova Vida", "Descaradamente Infiéis"), segundo uma ideia original de Victoria Bedos. Visto por mais de sete milhões de espectadores em França, o filme teve seis nomeações para os Césares e deu a Louane Emera, a jovem que interpreta a personagem principal, o prémio de Actriz Revelação.
Podem ver o trailler aqui: https://www.youtube.com/watch?v=KuGtmX8B6EE

Quero ser teu amigo

Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida.
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças.
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…

(Fernando Pessoa)

Os palhaços

https://www.youtube.com/watch?v=ivRZ_ubCcjk

Bocage. O poeta do improviso

E porque me lembrei, partilho esta pequena história:

Nicola. O café dos improvisos de Bocage
Conhecido por ser um espaço frequentado pelo poeta Bocage, o Café Nicola “sobreviveu” a uma guerra civil, à queda da monarquia, ao Estado Novo e a várias crises financeiras.
Lisboa, 1787. A capital portuguesa recupera aos poucos e poucos a vida que tinha antes do terramoto que a assolou 32 anos antes. Vários investidores vêm em Lisboa uma oportunidade de negócio - Nicola Breteiro foi um deles.
Este italiano decide abrir o Botequim do Nicola no sítio a que hoje chamam Praça D. Pedro IV, no Rossio, em Lisboa. A inauguração do espaço não passou despercebida a ninguém, tendo mesmo a “Gazeta de Lisboa” (jornal fundado em 1715 e extinto em 1820) feito referência à abertura do estabelecimento – a comercialização de cafés e refrescos tornou-se um sucesso e rapidamente este botequim lisboeta deu nas vistas.
A academia dos reprimidos… e de Bocage. Na altura da inauguração deste espaço já se viviam tempos politicamente conturbados em Portugal. O Intendente-Geral da Polícia do tempo da Rainha D. Maria I, Diogo Inácio de Pina Manique, era responsável pela repressão das ideias oriundas da Revolução Francesa (1789-1799) e pelo controlo de vários grupos, como os jacobinos e os maçons. De acordo com alguns registos mais antigos e as histórias que foram passando de boca em boca, estes organizavam reuniões no Nicola, com o objetivo de minar os pilares do Antigo Regime e aliciar novos elementos.
Para além destes, o botequim albergava também escritores, pintores, intelectuais e políticos da altura – a essa clientela se deve a atribuição da alcunha ‘Academia’ a este espaço. Um dos clientes mais conhecidos e assíduos era Manuel Maria Barbosa du Bocage. O poeta passou largas horas neste café a declamar alguns dos seus poemas e a participar em tertúlias literárias. Diz-se, aliás, que depois de ter falecido, o seu grupo de amigos continuou a frequentar o Nicola e a organizar tertúlias, mantendo assim o seu espírito vivo.
Terá sido no Nicola que o poeta amaldiçoou o padre absolutista, escritor e polemista truculento José Agostinho de Macedo e ditou a um amigo ‘Pena de Talião’, uma sátira ao seu inimigo.
O próprio café acabou por constar na obra de Bocage: reza a história que, após uma tarde de pândega neste espaço, um polícia lhe perguntou quem era, de onde vinha e para onde ia, ao que o poeta respondeu em verso:
“Eu sou Bocage
Venho do Nicola
Vou p’ro outro mundo
Se disparas a pistola”.
De café a ourivesaria, passando por livraria. Devido às fortes pressões políticas que se faziam sentir na altura e aos confrontos entre as autoridades e a clientela, o Nicola é obrigado a fechar portas em 1834, no final da guerra civil entre absolutistas e liberais.
O espaço prosseguiu como livraria e chegou mesmo, no início do século XX, a transformar-se numa ourivesaria. O local acaba por ser adquirido por Joaquim Fonseca Albuquerque, antigo sócio do Café Chave d’Ouro, em 1929. O novo dono decide manter o conceito e o nome original, retirando apenas a palavra ‘botequim’ e substituindo-a por ‘café’. Albuquerque quis manter o espírito que se tinha perdido com o encerramento do estabelecimento e homenagear Bocage com uma estátua criada pelo escultor Marcelino de Almeida e quadros do pintor Fernando Santos.
A presença do poeta naquele café ficou eternizada na escultura, na poesia… Mas também no próprio café: a família Albuquerque decidiu criar o seu próprio lote de café, proveniente do Brasil e São Tomé e Príncipe, comercializando-o com o nome Nicola. Este é sempre associado à figura do poeta, daí que o símbolo da embalagem de café tenha sido, durante vários anos, um desenho de Bocage. Esta ligação entre o lote de café e o estabelecimento quebrou-se há 10 anos – “O café precisava deste espaço para o marketing, nós precisamos dele para viver”, explicou ao i Rui Oliveira, gerente desta casa há precisamente uma década.
Um espaço de campanhas. Os tempos foram passando e o Café Nicola manteve-se um local de referência. “Muitas personalidades passaram por este espaço. Principalmente políticos – é um local de referência durante as campanhas”, diz Rui Oliveira, sem querer adiantar nomes. Apesar da conotação política por vezes atribuída ao café no passado, o atual gerente do espaço afirma que tal não se verifica nos nossos dias – “é um café frequentado por membros de todos os partidos políticos, todos passam aqui”. Para além das personalidades políticas, o Café Nicola também recebeu várias pessoas do meio artístico. “Estiveram aqui vários artistas nacionais e estrangeiros, a maioria atores brasileiros”.
E, seguindo a tradição imposta nos primeiros tempos de ‘vida’ deste estabelecimento, os momentos de divulgação cultural continuam a ser uma prioridade. “Tivemos durante algum tempo sessões de jazz no café. Agora temos noites de fado. É uma forma de divulgar a nossa cultura”, explica o gerente.
“Faço a paz, sustento a guerra,
Agrado a doutos e a rudes,
Gero vícios e virtudes,
Torço as leis, domino a Terra”.
Ainda hoje, Bocage é visto pelo meio popular como ‘o homem das anedotas’. No entanto, parte do seu anedotário é-lhe erradamente atribuído. Uma coisa é certa – tinha sempre uma resposta na ponta da língua: quer para os que adorava, quer para os que odiava. Podia ter sempre uma palavra mordaz para dirigir a alguém, mas também sabia quando declamar os mais doces versos. E muitos terão sido escritos depois de alguns copos e encontros inesperados no Nicola. 
Retirada de: https://ionline.sapo.pt/509283 

De onde venho e para onde vou...

Este título fez-me lembrar da resposta de Bocage ao policia que o mandou parar: "Eu sou o poeta Bocage e venho do Café Nicola e vou para o outro mundo se disparares a pistola".
Não sou boémia mas gosto da pandega como o nosso querido poeta. Gosto de teatro, de declamar poemas e histórias. Adoro contar histórias aos meus sobrinhos e crianças em geral. Adoro ver aqueles olhinhos a brilhar...
Adoro fantasiar e subir a cima do palco. Por isso pé(de)palco é o nome que achei interessante pois é pé de palco que é a parte da altura do palco e pede palco, deseja o palco.

O Filme da minha vida

A Vida é Bela
Uma incrível história dramática contada em tom de fábula cómica sobre o Holocausto e um dos mais belos, divertidos e comoventes hinos de sempre à vida, à liberdade e ao amor
Em 1938, na região italiana da Toscânia, o simpático judeu Guido apaixona-se por Dora, um professora que está noiva de um funcionário local. Guido, porém, não desiste até ao momento do casamento de Dora que acaba por fugir, em plena cerimónia, com o seu "delicioso cavaleiro andante". Durante cinco anos vivem felizes na companhia do seu delicioso filho Giosuè até que as medidas de perseguição e detenção aos judeus são implementadas na Itália. Guido e Giosuè são deportados para um campo de concentração e Dora decide acompanhá-los. Pai e filho ficam juntos e durante todo o tempo de prisão Guido, de forma engenhosa e com o auxílio dos outros prisioneiros, convence o garoto que estão num campo de férias a jogar um longo e emocionante jogo. Guido consegue transformar cada momento de humilhação, repressão e violência em hábeis situações do suposto jogo em que o garoto vai participando divertido. Finalmente, já perto do fim, Guido morre para salvar o filho, que se reúne à mãe no dia da Libertação.
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"A Vida é Bela" foi um dos mais estrondosos sucessos do cinema italiano dos últimos anos, que comoveu e divertiu o mundo com uma incrível história dramática contada em tom de fábula cómica sobre o Holocausto. Foi igualmente, a consagração mundial do talentoso comediante e cineasta italiano Roberto Benigni, que com este magnífico trabalho conquistaria inúmeros prémios, entre eles o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes e três Oscares da Academia de Hollywood, para ele próprio como Melhor Ator, para Melhor Filme de Língua Estrangeira e para a Melhor Banda Sonora. Apesar da polémica que suscitou ao abordar em tom de farsa a tragédia do genocídio dos judeus às mãos do Fascismo, Benigni conseguiu o prodígio de criar momentos delirantes de contagiante humor sem nunca perder quer o tom de fábula amarga quer a evocação brutal do Holocausto, em toda a sua extensão de perversidade sanguinária. Tudo isto num filme exemplarmente escrito, realizado e interpretado, dominado pela presença de Benigni que produziu um dos mais belos, divertidos e comoventes hinos de sempre à vida, à liberdade e ao amor. 
É o filme da minha vida porque além de me ter "arrancado" lágrimas passa uma mensagem de amor incondicional pela família, pela busca do amor e da paz!
Em momentos de lágrimas e de horror,  o personagem principal construiu um cenário de bem estar ao filho, ao invés de chorar e gritar de revolta, o momento foi sempre envolto de sorriso e esperança. Nunca esboçou alguma tentativa para injuriar ou maltratar o inimigo carrasco...
Este filme mostra-nos o quanto é difícil ser pai, homem, marido, como é difícil ser ator principal nos palcos desta vida quando as contrariedades nos ameaçam a todo o minuto.
Apesar da fatalidade, o amor de pai, de marido e do amor ao próximo imperou! Essa é a grande mensagem, como sorrir e ter esperança num mundo que se tornou frio, egocêntrico, escasso no tempo para verdadeiras relações de amor? O mundo tornou-se competição, poder, dinheiro e sorrisos amarelos... 

Quem eu sou?'

Quem eu sou?
Quem sou eu?

Eu sou um ser humano, do sexo feminino. 1,63m de altura. Cabelos pelos ombros em tons castanho.
Sou eu que trato de mim e cuido de todo o meu processo de crescimento. Por isso tento ser simpática, carinhosa e boa ouvinte.
Vivo numa pacata aldeia que me deixa ser agradável sempre que me cruzo com alguém e que me proporciona bons momentos de descontração.
Enfim... eu sou quem sou sendo eu mesma

domingo, 7 de janeiro de 2018

A Raça

A terminologia raça pode ser bem ou mal aceite em pleno século XXI, os antropólogos certamente que continuarão a usar o término, enquanto setores da sociologia irão contrariar e usar outros terminologias para classificar grupos ou pessoas.
O que me preocupa realmente, é o que o término raça provoca nas pessoas e na sociedade, sobretudo quando politicamente o fato de pertencer a uma determinada "raça" é utilizado para segregar, excluir, empobrecer etc.

O que me preocupa é o que uma raça pode fazer a outras, a raça detentora do poder, seja político ou económico ! O que pode fazer com os indesejados!?
A lei do degredo foi no século XV ao XVI, mas em pleno século XXI, há uma lei do degredo subtil, que não envia os indesejados para as colónias ultramarinas, mas envia-os para as periferias, os bairros sociais...
Deixo um texto que escrevi há dois anos sobre bairros periféricos.


Bairros Periféricos/Intervenção
Periferias, para muitas pessoas esta palavra pode ser sinónimo de muitas coisas, muitas vezes assustadora quando se fala em bairros sociais, sim, porque grande parte dos bairros sociais das nossas cidades foram estrategicamente construídos pelos políticos em zonas periféricas, longe do olhar dos demais, inaudíveis, concentrados, isolados.
Posso-me considerar um cidadão periférico, pois sou português cigano e fui “empurrado” a viver num bairro social durante 28 anos, e o facto de ser cigano é implicitamente associado aos bairros “guetos” sociais periféricos. Os pobres, os indesejados da sociedade, as minorias étnicas e grupos de imigrantes vistos como os “ranhosos” por grande parte da sociedade. Esta sociedade pressiona politicamente de maneira a que aconteça uma espécie da lei do degredo do século XX e XXI, só que agora os indesejados e os ciganos já não vão fazer trabalhos forçados nas galés ou colonizar as novas terras achadas ou descobertas, dependendo da interpretação de cada um, são enviados para os bairros periféricos…
As políticas de habitação do século XX e XXI em Portugal são do mais terrível que nos podia ter acontecido, a guetização de pessoas ou de grupos é um descalabro total, pois a política habitacional nunca teve como objetivos a melhoria habitacional ou a integração das pessoas, o único desejo político era afastar dos centros das cidades os indesejados, os “ranhosos” para assim facilitar o controlo policial (ter um único foco de problema), guetos apenas com uma entrada e uma única saída para tornar as investidas policiais mais eficazes, guetos construídos sem estarem capacitados com infra estruturas de apoio, vetados ao abandono, guetizados que foram encaixotados num apartamento de construção duvidosa, materiais de construção de última categoria…
Pela falta de sensibilidade e crueldade dos autarcas que decidiram apostar na construção de bairros sociais, assistimos hoje a territórios “barris de pólvora”, os bairros sociais apesar da pobreza apresentam as várias culturas dos moradores e ainda a cultura do bairro que se sente revoltada com a sociedade, sentem-se abandonados e assim desejam a todo o custo manter e conservar traços e as características do bairro, tornando-se inflexíveis às sugestões do exterior…
Há agora autarcas e pessoas preocupadas com estes guetos forçados, sinceramente, acho que muitas destas pessoas não estão preocupadas com as ditas pessoas, estão sim interessados em pacificar esses territórios porque pouco a pouco as cidades têm necessidade de crescer e as ditas periferias deixam de ser periferias para serem assimiladas pelo crescimento da cidade, e aí há um despertar de interesses de novas construções, comerciais, industriais etc.
Os guetizados são sempre pessoas multiplamente discriminados, excluídos socialmente, porque normalmente pertencem a um grupo minoritário, porque é pobre e é residente no gueto, fatores para os afastar do mundo do trabalho… Quantos são aqueles que quando apresentam os CVS têm que dar uma outra morada para que não sejam afastados à partida numa oferta de emprego??!!
O pensamento de um guetizado da periferia é fácil de descortinar: «sou indesejado pelos de fora do bairro, sou visto como inimigo, para quê estudar? Quem nos vai dar emprego? Porque nos olham ou fogem de nós quando vamos ao centro da cidade? Porque sussurram quando nos vêem? Não sou encarado como um cidadão mas sim como um estorvo!...
Apesar de tudo, os guetizados conseguem também reconhecer e serem conscientes dos seus problemas e barreiras, também se questionam, e nada melhor que os guetizados para identificarem e priorizarem os seus problemas, elaborarem propostas e contribuírem para a implementação da proposta, certamente que uma ajuda do exterior para organizar ideias é benvinda!


Há 16 anos, eu,  Bruno Gonçalves, juntamente com outros guetizados ciganos e não ciganos decidimos tentar mudar o panorama do gueto onde vivíamos, face ao enorme absentismo escolar nos bairros socias do Planalto do Ingote. Assim, em 1999 legalizamos a Associação Cigana de Coimbra que teve como prioridade um projeto de mediação intercultural para a escola, esta tinha 43% de absentismo. No primeiro ano baixou-se para 13% e sucessivamente nos anos seguintes conseguiu-se uma maior normalização escolar e sucesso escolar, a escola que era vista como a pior e mais assustadora de Coimbra hoje recomenda-se. Depois de 16 anos de intervenção, 2 antigos alunos entraram na universidade, outros tiveram percursos profissionais de sucesso.
A minimização da problemática nos bairros sociais periféricos passa por uma real vontade política, por uma aposta nas pessoas que lá vivem, possuidoras de enorme talento e competências ainda por descobrir e acima de tudo, delinear estratégias de trabalho não para os, mas com os residentes, o processo diz respeito a eles, eles têm as suas ideias, as suas estratégias, os seus sonhos, senão tiveram o direito de escolher onde deveriam habitar, devem ter o direito de desenhar uma melhor vida de acordo com as bases legais no bairro para onde foram “empurrados” e que os levou a uma desintegração forçada da sociedade…
A política habitacional correta é a disseminação destas pessoas pela malha urbana, fazer como se fazem noutros países, onde os municípios negociam com os construtores, terrenos municipais são vendidos a preços mais baixos para construção com o contrato que um ou dois apartamentos serão para habitação social, requalifiquem-se os centros da cidade...




País diverso e Multicultural??!!!




Para quando a educação Intercultural nas nossas escolas?! Para quando as histórias e culturas de outros grupos culturais, religiosos farão parte dos conteúdos programáticos das nossas escolas?!
Povo cigano, 5 séculos em território português, alvos ainda de um enorme desconhecimento e omissão.
Que se comece pelas crianças, este pequeno filme foi baseado no meu livro "A História do Ciganinho Chico" editado em 2011.
Não quero que me aceites, mas se quiseres podes me compreender!

https://vimeo.com/24994092




Quem eu sou? De onde venho? Para onde vou?

Quem eu sou? De onde venho? Para onde vou?

Nada melhor que este poema para ilustrar e responder a todas estas perguntas:

Ser Cigano
É  acordar de madrugada
Com 15,50 € de capital
E ter alegria.



Ser Cigano
É conhecer uma mulher com 17 anos
E morrer com ela aos 80 Anos.

Ser Cigano
É ser hospitalar e receber com o que tem
Aquele que vem a tua casa.

Ser Cigano
É nunca ter ido a uma escola de música
E ter arte para encher um teatro.

Ser Cigano
É não largar um amigo em uma
Quimera mesmo que tenhas hipótese de fugir.

Ser Cigano
É sempre ter presente de onde você vem.

Ser Cigano
É ter sensibilidade pronunciada
Com os pobres.

Ser Cigano
É ter falta de ortografia no papel
E mesmo se escrever versos perfeitos em alma.

Ser Cigano
É ter pensamento único
Na sociedade do pensamento colectivo.

Ser Cigano
É não ter essa ganância almejada para roubar dinheiro para 23 vidas.

Ser Cigano
É viver um dia de cada vez.

Ser Cigano
É ter os nossos velhos
Na melhor cadeira da nossa casa
Até ao fim dos seus dias.

Ser Cigano
É honrar a pureza
E descartar a depravação sexual.

Ser Cigano
É ter humildade e simplicidade.

Ser Cigano
A arte do invisível.
Autor desconhecido
Geração Roubada


O tema do filme “Geração Roubada” é um assunto sensível que explora e retrata uma realidade que me era desconhecida e que não me deixou  indiferente. Na verdade, esta situação na Austrália continua a acontecer mas de uma forma subtil, o povo aborígene além de desprezado, discriminado pela sociedade, tem altos níveis de criminalidade, pobreza e consequentemente todos os flagelos da mesma.
Há ainda um privilégio branco, o ser colonizador permite escrever ou dizer algo que inevitavelmente vira verdade por muito que haja omissão de fatos que contrariam a mesma verdade.
O que mais me chocou no filme foi ver alguém do próprio povo, como os "caçadores" dos fugitivos, se tornarem os carrascos dos seus. A sobrevivência gera submissão!...
Mas de positivo, foi a mensagem transmitida de perseverança daquelas crianças, cada passo rumo a  casa "transpirava" o orgulho do seu povo e suas raízes...
Não querendo ser pessimista, mas hoje em dia estas situações acontecem, não duma forma tão direta e brutal, mas o aparelho de estado de uma grande parte das sociedades do mundo, quando estas falam de diversidade cultural, interculturalidade e multiculturalidade mas não passa de utopia pois os valores de culturas são apenas promovidas de forma pontual e folclórica... Não posso conceber que segundo padrões determinados por uma cultura hegemónica atribua a outras culturas de outros povos o termo de subculturas. Daí podemos retirar que uma subcultura é algo abaixo de outra, sem o mesmo valor  e importância que a cultura hegemónica. Hoje, grupos culturais diferentes, assistem a uma assimilação inevitável, essa da diversidade ser uma riqueza não é bem verdade, são politiquices para se ficar bem na fotografia...
Só quando há semelhanças ou nos tornamos detentores dos valores e padrões hegemónicos é que as "portas" se abrem ligeiramente, ligeiramente...

O que é raça?

Fomos desafiados para fazer uma reflexão depois de ver alguns artigos sobre raças, o que resultado da minha reflexão saiu em molde de poema!

O que é raça?

Será que existem raças humanas?

Ou será que só existem etnias?

Esse é o problema

E dos sociólogos grande dilema.

 

Mas, cabe a nós fazer a diferença

Pois no fundo somos todos iguais

Não devemos dar sentenças

Para não sermos irracionais.

 

Se o nosso DNA é multinacional

Somos cidadãos do mundo

Se colocar alguém de parte é opcional

Vamos colocar de lado o racismo imundo.

 

“Línguas: vidas em português”


“Línguas: vidas em português” é um documentário filmado em vários países, que nos mostra claramente como é o idioma português no quotidiano de pessoas que falam essa língua em países diferentes. As filmagens ocorreram no ano de 2001 em seis países: Brasil, MoçambiqueÍndia, Portugal, Japão e França. O filme fala-nos sobre da língua portuguesa ser falada pelo mundo e a sua permanência entre culturas variadas. Falada por mais de 240 milhões de pessoas (2013), das quais 211 milhões são brasileiros.

Este documentário mostra-nos que cada sitio adotou o português conforme as suas crenças, valores, os seus costumes ou a sua cultura. O  português foi herdado mas nem todos falam a língua da mesma maneira; apenas se chama “português”, porque muitas coisas são iguais e continuam desde os tempos passados, mas muitas outras mudaram.

Este documentário mostra-nos que existem muitas pessoas que falam a chamada “língua portuguesa”, e que esta é uma das línguas mais faladas no mundo. Temos, só no Brasil, 170 milhões de pessoas que falam esta língua, o lugar de mais utilizadores da língua portuguesa depois do inglês e do espanhol.

Considerando a diversidade da Língua Portuguesa, fizemos assim uma viagem cultural por diversos países que adotam esse idioma através do filme "Língua: Vidas em Português", do diretor Victor Lopes.

É um documentário real que mostra a vida das diferentes populações que falam a nossa língua portuguesa, assim mostrando histórias reais, de pessoas bem diferentes, de aposentados, de casais, de jovens, de apaixonados, de artistas entre outros. O documentário passa os diferentes lugares, países, regiões, que falam, que vivem, que cantam, que amam, que declamam em português diariamente. Seja num simples diálogo a comprar um pão numa padaria de Goa, ou num sermão de uma igreja numa favela no Rio de Janeiro no Brasil, num ritual com danças e oferendas, ou numa conversa descontraída no “boteco”.

Vendo o filme, podemos notar como a pronúncia do português brasileiro é diferente da pronúncia do português europeu, embora as duas línguas estejam muito ligadas, pois os povos que as falam são de regiões colonizadas por portugueses. Também podemos ver como a nossa língua é rica de cultura, aliás, de muita cultura. O português é usado todos os dias por mais de 200 milhões de pessoas, desde um simples vendedor de rebuçados a ganhar a sua vida nas ruas interagindo com as pessoas, até a um cantor muito famoso como o Martinho da Vila a cantar os seus sambas e mostrando as suas inspirações nas terras brasileiras. Ambos usam a língua portuguesa para fazer coisas tão diferentes.

O português está constantemente a ser usado por brasileiros, moçambicanos, goeses, angolanos, japoneses, cabo-verdianos, portugueses e guineenses, todos com os seus diferentes sotaques, como podemos ver no filme.

Uma observação muito interessante é feita no filme pelo escritor José Saramago, quando afirma que “não há língua portuguesa, há línguas em português”. Outro ponto importante no documentário é o facto de estarem inseridos no mesmo, pessoas de várias faixas etárias, pessoas do povo, ambulantes, religiosos de várias religiões, artistas, dando uma visão bem ampla das diferenças culturais que influenciam na forma de falar a língua portuguesa.

A língua portuguesa não é uma língua estática, mas que se transforma em função do ambiente onde e falada e é também factor de transformação desse ambiente.

A língua portuguesa é muito vasta, como retrata o documentário, originária do latim. Possui várias formas de ser pronunciada, algumas alterações que variam de país para país. Nunca conseguiremos expressar com total clareza aquilo que sentimos e pensamos, mas a linguagem é uma tentativa de traduzir o sentimento.

Recomendamos este documentário a outros colegas e pessoas que se interessem em saber um pouco mais de como a nossa língua é utilizada nos diferentes continentes onde ela é falada, identificando diferenças e semelhanças entre povos. Como diz o escritor moçambicano Mia Couto referindo-se ao filme, "é uma viagem não por lugares, mas por pessoas”. E nós arriscamo-nos a dizer que é uma viagem pela língua que, apesar de tantas diferenças, é o elo de ligação entre os povos. É um filme feito de conversas com trechos do dia-a-dia de pessoas de variadas classes sociais, idades e também diferentes religiosidades.

Também nos chamou a atenção o facto de países tão diferentes falarem o mesmo idioma.

Mais uma vez aconselhamos este filme “Língua: Vidas em Português”, pois através dele conhecemos diferentes culturas e povos que falam a língua portuguesa, desde portugueses e brasileiros até japoneses. O filme mostra os diferentes sotaques e as diferenças dos gostos, das modas, das músicas de cada região, que são muito diferentes. Assim, passa para as pessoas que o assistem uma ideia de como o português é importante para a sobrevivência de diferentes pessoas, desde pessoas simples e pobres, até pessoas ricas e importantes, negros e brancos, indivíduos que são tão distintos, mas que se ligam por uma coisa em comum que é a língua portuguesa.
 
Isa Matos

Estudantes Ciganos

https://youtu.be/lz3mApTyK9A